8 de Março: Mulheres na Luta por Justiça Socioambiental e  Bem Viver

Por Lavínia Pinheiro¹

O 8 de Março é uma data histórica de luta das mulheres, dia de levar reivindicações para as ruas, por direitos e dignidade. Mais do que uma celebração, é um momento de fortalecer a resistência e reafirmar o compromisso com a construção de um mundo mais justo e igualitário. E, nesse contexto, a luta feminista e por justiça socioambiental estão diretamente interligadas. Essa conexão não é acidental: as mulheres, especialmente as mais pobres, negras, indígenas e periféricas, são as mais impactadas pelas crises ambientais. Elas são as primeiras a sentir os efeitos da escassez de água, da poluição, do desmatamento e das mudanças climáticas. Em muitas comunidades, são as mulheres que caminham quilômetros para buscar água, que cuidam da terra e que garantem a alimentação de suas famílias. Por isso, a luta ambiental não é apenas uma questão de preservação da natureza, mas uma questão de sobrevivência e dignidade para milhões de mulheres.

Os movimentos feministas populares têm sido fundamentais para denunciar como o modelo de desenvolvimento capitalista, baseado na exploração desenfreada dos recursos naturais, afeta diretamente a vida das mulheres. A luta contra a privatização da água, contra megaprojetos de mineração e hidrelétricas, e contra o agronegócio predatório é também uma luta feminista. As mulheres estão na linha de frente dessas resistências, mostrando que a defesa do meio ambiente é inseparável da luta por direitos humanos. Essa conexão fica ainda mais evidente quando olhamos para as contribuições do movimento de mulheres negras, indígenas e de comunidades tradicionais, que levantam  bandeiras pela construção e defesa de outros e novos mundos a partir do bem viver, valorizando saberes ancestrais e formas não predatórias de ser e estar no mundo.

Para essas mulheres, o bem viver significa acesso à terra, à água limpa, à saúde, à educação e à cultura, mas também o respeito aos saberes ancestrais e à conexão com a terra. Essa visão desafia o modelo capitalista e aponta para um futuro mais justo e sustentável. No entanto, essa luta não é fácil. Muitas mulheres já tombaram e se encontram em vulnerabilidade apenas por serem mulheres e ativistas pelos direitos. A violência ambiental, a expropriação de terras e a criminalização das lutas sociais são realidades que atingem diretamente as defensoras da terra e da vida.

Seguindo com o legado de luta do movimento de mulheres negras, o ano de 2025 será marcado pela ocupação das ruas e por grandes mobilizações. No dia 25 de novembro, em Brasília, ocorrerá A 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver. E será uma oportunidade de fortalecimento também da luta por justiça socioambiental. A data escolhida pelos movimentos  não é aleatória: o 25 de novembro é o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, e lembramos que a violência ambiental também é uma forma de violência de gênero. A destruição de ecossistemas, a contaminação de rios e a expulsão de comunidades tradicionais de suas terras são violências que atingem diretamente as mulheres, especialmente as mulheres negras e indígenas.

Não há como falar em direitos das mulheres sem falar em acesso à água limpa, à terra, à alimentação saudável e a um ambiente livre de violência e exploração. As mulheres negras, indígenas e camponesas, têm mostrado que a justiça socioambiental é uma bandeira fundamental para a construção de um mundo mais justo e igualitário. Há décadas o movimento feminista negro vem pontuando como a luta por direitos não admite separações: é uma luta coletiva, interseccional e, acima de tudo, urgente. Juntas, somos mais fortes. Juntas, somos a mudança. Fortaleçam a luta e os movimentos feministas populares!

¹ Lavinia Pinheiro é mulher negra e ativista. Atualmente atua como Coordenadora de Programas e Projetos da Pacová – Articulação de Cooperação do Campo à Cidade

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